domingo, 30 de junho de 2019

A Internet não ameaça o jornalismo

Antonio Carlos Lua



O jornalista norte-americano, Glenn Greenwald – que desde o dia 9 de junho faz o Brasil ferver com a divulgação, no site ‘The InterceptBR’, de trechos de conversas no aplicativo de mensagens Telegram entre membros da Lava Jato, incluindo Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol – já explodiu grandes segredos de presidentes dos Estados Unidos, incluindo Barack Obama.

Depois de passar pelo site "Salon" e pelo jornal inglês "The Guardian", Greenwal – que também é advogado especialista em Direito Constitucional – criou o site ‘The InterceptBR’. Seu principal instrumento de trabalho é o computador.

Glenn Greenwald é o homem a quem, Edward Snowden entregou os documentos da abismal espionagem estruturada pela NSA através do dispositivo Prisma com a colaboração das empresas privadas como Google, Facebook, Yahoo!, Microsoft, entre outras.

Edward Snowden valeu-se de Greenwald porque respeitava o seu posicionamento contra a política da indústria norte-americana de espionar a cada cidadão do mundo. Foi ele que realizou as investigações explosivas sobre WikiLeaks, Julian Assange, e o soldado Bradley Manning, o militar que entregou a Assange os arquivos secretos.

Os drones, a luta contra o terrorismo, a nefasta herança da administração do ex-presidente norte americano George Busch, as zonas obscuras da administração de Barack Obama e a espionagem globalizada montada pelos Estados Unidos a partir do dispositivo Prisma são temas conhecidos por Glenn Greenwald.

Aqueles criticam Glenn Greenwald devem lembrar que a indústria dos vazamentos é constitutiva da Lava-Jato e como tal é parte dela. Por tanto, não faz sentido reclamar de tragarem do próprio veneno, pois ao jornalismo – de qualquer matiz ou vertente – cabe difundir o que for de interesse público, após exaustiva checagem.

Para quem difundiu conversas de ministros de Estado e presidente da República no exercício do cargo, detalhes de conversas através de celulares funcionais são o que há de menos significativo em tudo isso.

domingo, 2 de junho de 2019

Os radares desajustados da economia


Antonio Carlos Lua

Existe hoje, no Brasil, uma economia que maltrata, mata, destrói. No centro das coisas não está mais o homem e sim o dinheiro, com um conceito econômico diminuto.

Se por um lado a crise é real e tem impactado diretamente a vida das pessoas. Por outro lado, o debate franco sobre os fatores que nos levaram a essa lamentável situação é inebriado por um projeto político: o de Estado Mínimo

Não é justo submeter o Estado ao mercado. Quando é o mercado que governa, o Estado torna-se fraco e acaba submetido a uma perversa lógica financista, com uma política fiscal fortemente contracionista.

A plataforma liberalizante do ministro Paulo Guedes  suspeito de usar uma de suas empresas para lucrar em cima do prejuízo de estatais e seus fundos próprios de aposentadoria complementar – fracassou.

A crise na qual estamos atolados pede soluções justas. Não aquelas que atendam à lógica do mercado, prejudicando a democracia e dando espaço às veleidades autoritárias. 

Não podemos perder de vista a necessidade de um Estado forte em contraposição ao “Estado mínimo” com suas políticas fiscais agressivas. É preciso ter força e coragem para não obedecer cegamente à mão invisível do mercado. Se o lucro prevalece como fim, a democracia tende a se tornar uma plutocracia, potencializando as desigualdades.

O pacote dourado de produtos otimistas que Paulo Guedes tentou vender não resistiu à realidade e sucumbiu, como mostram as notícias que vieram a público nos últimos dias, apontando a queda do Produto Interno Bruto, em 0,2% em comparação com o último trimestre do ano passado.

Nossa economia está na UTI e o Brasil está em rota de declínio. Enquanto não cumpre a promessa de desmontar a bola de neve do endividamento, o ministro Paulo Guedes faz da mentira sua principal qualidade e prossegue sua atrapalhada peregrinação.

Ele tem por missão primeira promover a destruição completa de todo e qualquer resquício de setor público no Brasil. Assim, para além da entrega das reservas antigas e novas de petróleo do Pré-Sal para as multinacionais petroleiras, o ministro mitômano quer agora a liquidação das estatais federais, com a venda da metade das refinarias em posse da Petrobras.

Os argumentos do ministro Paulo Guedes em relação às privatizações do Banco do Brasil e  Caixa Econômica – estatais que dão lucro ao Governo Federal – evidenciam uma posição puramente ideológica pró-mercado, sem racionalidade econômica.

O Governo Federal aposta, agora, todas as fichas na Reforma da Previdência, embora todos saibam que ela não será uma panaceia para a retomada do crescimento. Na verdade, da forma como está posto, o projeto de Reforma da Previdência não é para retirar privilégios. É para acabar com a Previdência.

Sem uma mudança de direção a crise pode piorar com consequências potencialmente graves para a prosperidade e estabilidade do país a curto e médio prazo. Hoje mais do que nunca, é necessário corrigir os modelos de crescimento que se mostram incapazes de garantir a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações futuras. 

É preciso civilizar o mercado para não sacrificar sobre o altar da eficiência os valores fundamentais como a democracia, a justiça e a liberdade, com a impiedosa ditadura de uma economia sem rosto e sem propósitos verdadeiramente humanos. 

É necessária a implementação de políticas distributivas que ampliem os direitos sociais, para que sejam atendidas, na justa medida, as reivindicações da sociedade, com decidido respeito ao Estado Democrático de Direito.

Não nos interessa assistir Paulo Guedes discursando sobre sobre a pertinência dos mandamentos econômicos inscritos nos cânones da ortodoxia, até porque, embora imperceptível para os radares desajustados dos cientistas da economia, a exuberância irracional esgueira-se nas plácidas certezas da ignorância. 

Desinformado das lições da história, Paulo Guedes ignora os paradoxos da ação humana. É ele que vem alimentando o apetite dos super-ricos que agem no mercado financeiro num tropel de búfalos enfurecidos em busca da riqueza líquida.