Antonio Carlos Lua
Os 199 anos da independência do Brasil, comemorados terça-feira, 7 de setembro, teve o gosto estranho da amargura, desilusão, no atoleiro da crise na qual estamos patinando com as disputas estéreis que jogam nossa democracia num lamaçal.
Assim, no lugar de desfiles e paradas cívicas nas ruas, assistimos ataques gratuitos e intempestivos perpetrados contra as Instituições e os Poderes pelo Presidente da República, cujo discurso degenerado – próprio do seu personalismo senhorial e doentio – se distancia cada vez mais do Brasil real, ignorando os temas caros para a sociedade.
Cabem nos mencionados ataques a ideologia popular nacionalista de extrema-direita, o negacionismo e a arrogância do Presidente da República adotando uma postura antidemocrática, rasgando e esgarçando com ódio e violência a já corroída credibilidade do país.
Atentar contra a Constituição Federal, fabricar e divulgar notícias falsas, negligenciar os avanços da ciência, da tecnologia, do conhecimento e manter-se inerte diante do sucateamento do patrimônio cultural do país enfraquece os alicerces de confiança da Nação.
Fica evidente que, para Bolsonaro, a legalidade democrática é vista e sentida como algo muito perigoso e por isso mesmo ele tenta interromper essa legalidade, uma vez que ela se volta naturalmente contra a natureza autocrática do seu governo. Ele tornou-se o inimigo número um de si mesmo.
Dizer que Bolsonaro passou dos limites virou lugar-comum. Faltam adjetivos para qualificar o seu delírio histérico de colocar o poder acima da Constituição Federal, em discursos potencializados nas engrenagens políticas ultraconservadoras que – glorificando a Ditadura Militar – tentam solapar a cidadania, pregando a violência e a barbárie.
Mas o Brasil não pode institucionalizar a tirania – nem no Palácio do Planalto, nem nas ruas. É preciso tolerância zero com as atitudes de Bolsonaro, cujas posições desatinadas mostram uma hostilidade aberta contra a democracia, a imprensa e os direitos humanos.
Vivemos um dos piores momentos da história brasileira. Nossa pátria está mergulhada no abismo da incerteza com os desmandos de um Presidente da República que, ignorando as transformações no mundo, quer fazer valer a velha ideia de despotismo, contra-valores e benesses de governo régio.
Precisamos de uma nova independência, uma vez que aquela que será bicentenária em 2022 tenta estabelecer a escravidão moderna, com o país agindo como uma província sem a construção de consensos civilizatórios mínimos capazes de superar a barbárie e a miséria.