domingo, 5 de junho de 2022

Bob Dylan: Soprando no Vento

ANTONIO CARLOS LUA

A música de Bob Dylan ‘"Blowin' in the wind" – em tradução literal “Soprando no Vento” – está sempre ligado aos nossos sentimentos, sendo o hino da nossa geração. Afinal, como foi que nossas vozes foram instigadas por um homem de calça jeans que dedilhava um violão? Que respostas a música de Bob Dylan pode dar para o mal dos nossos dias?    

A escritura sagrada nos diz repetidas vezes que o espírito santo se move no vento, sendo uma força mais potente do que qualquer outra. Essa é uma afirmação que o saudoso Papa João Paulo II também fez no dia 27 de setembro de 1997, quando Bob Dylan foi cantar para ele, em Bolonha, na Itália.

Atualmente, um vento malvado está percorrendo o mundo, deslizando-se entre as rachaduras dos nossos corações, chicoteando nossas mentes no fundo dos becos mais sombrios da nossa alma. 

Talvez seja necessário ouvir, agora, a música de Bob Dylan e aceitar a sugestão do Papa Francisco, pedindo que o Espírito Santo direcione o seu rodopio, soprando o vento, suavizando as nossas vozes irregulares, com o ‘Cântico do Irmão Sol’, de Francisco de Assis. 

A referência à Bíblia é uma bússola constante ao longo do caminho criativo de Bob Dylan. Boa parte dos seus primeiros sucessos musicais – a partir da célebre “Blowin' in the Wind” – teve inspiração em passagens dos livros de Ezequiel e Isaías.

O grande código bíblico continua sendo um texto de referência recorrente na sua produção artística. Ele o lê essencialmente como poeta, com o insuperável repertório de metáforas e de parábolas, que é mais uma referência cultural do que pedra angular pessoal.

Em certo ponto da sua trajetória, Bob Dylan passou a praticar a música como um ato de fé, com um carisma capaz de fascinar plateias. A esse respeito, é exemplar a famosa e controversa trilogia cristã, com três álbuns seus gravados entre 1979 e 1981, em um momento particular da sua vida.

Bob Dylan passou vários meses estudando a Palavra de Deus, lançando depois vários discos nos quais não se poupou em cantar a fé em Jesus Cristo. A Bíblia de Bob Dylan é implacável e exige uma fé agarrada a uma rocha sólida, com visão profética. 

Para encontrar canções de sabor bíblico e artisticamente bem-sucedidas, convém voltar o olhar para o Bob Dylan clássico, com a chave de protesto contra a corrida armamentista e o medo de uma terceira guerra mundial que, às vezes, parece iminente.

A conversão de Bob Dylan – que alcançou a glória literária ao receber, em 13 de outubro de 2016, o Prêmio Nobel de Literatura – ocorreu em 17 de novembro de 1978, quando ele estava se apresentando em San Diego e uma pessoa da plateia jogou no palco uma pequena cruz de prata. 

O cantor se inclinou, recolheu e guardou a cruz de prata. Chegando no hotel, após o show, ele remexeu no bolso, encontrou a cruz, colocou a mesma no pescoço e encontrou Jesus. Seguem-se, então, a trilogia gospel, a pregação do Evangelho durante seus shows e o anúncio do Apocalipse em um mundo cada vez mais analfabeto de Deus, com o elemento religioso sendo parte integrante do roteiro que acompanha as grandes rupturas de sua vida.