domingo, 26 de novembro de 2023

Allende não se rende!!


ANTONIO CARLOS LUA

Há 50 anos – após mil dias de governo – morria, em 11 de setembro de 1973, o ex-presidente do Chile, Salvador Allende, durante um golpe de Estado liderado pelo então general Augusto Pinochet, comandante-chefe do Exército chileno.

Com o Palácio Presidencial ‘La Moneda’ sendo bombardeado, Allende pediu um salvo conduto aos militares para que seus assessores mais próximos e sua filha pudessem deixar o local. Quando os militares lhe ofereceram um avião para que saísse do país acompanhado pela família, Allende recusou, dizendo que só sairia morto do Palácio.

“Não serei um governante derrubado por golpistas! Deste lugar saio vivo como presidente constitucional do Chile, ou derrotado, mas morto! Meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a deslealdade, a covardia e a traição. Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com a vida a lealdade ao povo. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor”. Minutos depois, ouviu-se o seu grito estridente: “Allende não se rende!!”

Este trecho do último discurso do presidente Salvador Allende, em plena resistência no Palácio de La Moneda, revela o compromisso inabalável de um político com o povo que o elegeu, com a democracia, com a liberdade e com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Em vez do exílio junto com sua família, que lhe foi oferecido pelos golpistas, Salvador Allende optou pelo sacrifício da própria vida. E resistiu como um bravo, de armas na mão, junto com um grupo reduzido de combatentes que lutaram até o fim.

Allende – que pagou com a vida a defesa de princípios que lhe eram caros – cumpriu o que disse horas antes na Rádio Magallane, quando afirmou que, pelo seu compromisso com o Chile, não seria usado como ferramenta de propaganda daqueles que classificou como "traidores".

Homem político forjado nas lutas cotidianas, Allende visava conquistar espaços para uma política popular, num sistema democrático e representativo, em que as políticas de aliança para favorecer a esquerda fossem factíveis. Ele nunca abandonou a crítica ao capitalismo e o desejo de socialismo.

Médico, dedicou toda a vida ao povo chileno, sendo um símbolo de luta social no país. Enfrentou a resistência da burguesia chilena e a perseguição política dos Estados Unidos. Por sinal, partiu do então presidente norte-americano, Richard Nixon, a ordem para derrubar Allende, financiando o movimento de conspiração contra o seu governo no Chile e dando a Agência de inteligência Norte-americana (CIA), a ordem para sabotar as reformas propostas pelo governo chileno.

Após as versões distorcidas de que Allende poderia ter sido assassinado pelas Forças Armadas do Chile, a Justiça chileno autorizou, em 2011, a exumação e autópsia dos seus restos mortais, cujo laudo concluiu que ele se matou com um rifle AK-47, dada a ele como presente pelo seu amigo e então presidente de Cuba, Fidel Castro, trazendo uma placa dourada com a inscrição: "Ao meu bom amigo Salvador Allende, que por diversos meios tenta atingir os mesmos objetivos que defendemos”.

A autorização do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, para o desarquivamento dos documentos que tratavam sobre o Golpe Militar no Chile, em 1999 – ano em que o ditador Augusto Pinochet estava preso, em Londres, a pedido da Justiça espanhola – mostrou que logo após a eleição de Allende, em 1970, o ex-presidente Richard Nixon autorizou o então diretor da CIA, Richard Helms, a minar o governo chileno por temer que este se tornasse uma nova Cuba. Na época, Kissinger era o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

O desarquivamento autorizado por Bill Clinton desenterrou detalhes sobre as operações secretas da Agência de Inteligência Norte-americana no Chile entre os anos de 1962 e 1975, tanto para impedir que Allende fosse eleito, como também para desestabilizar seu governo e, finalmente, para apoiar a ditadura de Pinochet, após o golpe sangrento do dia 11 de setembro de 1973. 

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