Um
exército virtual de perfis falsos com fotos roubadas, nomes e cotidianos
inventados poderão influenciar ativamente o debate político durante o processo
eleitoral de 2018 com o chamado 'comportamento de manada', que permite a
manipulação da opinião pública pelos chamados ‘ciborgues’.
‘Os
‘ciborgues’ representam uma evolução tecnológica dos robôs, sendo uma mistura
entre pessoas reais e ‘máquinas’, dotados de partes orgânicas e cibernéticas,
com rastros de atividades mais difíceis de serem detectados no universo virtual
devido ao comportamento mais parecido com o de seres humanos.
Estudos
da British Broadcasting Corporation (BBC) e do Oxford Internet Institute, da
Universidade de Oxford, da Inglaterra, apontam que a estratégia de manipulação
dos ‘ciborgues’ junto à opinião pública nas redes sociais é similar à usada
pelos russos nas eleições americanas para favorecer Donald Trump.
Essa
mesma estratégia foi usada também nas eleições gerais de 2014, no Brasil, embora não se
saiba, com precisão, se chegou, de fato, a ter algum efeito decisivo no pleito. O que se sabe é que a prática vai ser bastante explorada nas
eleições de 2018 que, ao que tudo indica, serão muito polarizadas.
Os
‘ciborgues’ geram cortinas de fumaça nas redes sociais, orientando discussões
para determinados temas conjunturais, atacando adversários políticos e criando
rumores, com clima de 'já ganhou' ou 'já perdeu'.
Eles
exploram o "comportamento de manada", coordenando campanhas de ódio e
desinformação tanto no Brasil como em vários países do mundo. O
robô faz a parte automática e uma pessoa real cria ‘tweets’ (publicações feitas na rede social do Twitter), para confundir
os algoritmos. É um jeito de se esconder uma conta, e ao mesmo tempo criar uma outra muito mais inteligente.
O
Facebook prometeu sistemas de checagem de fatos e o Twitter continua
perseguindo contas falsas, mas deter a manipulação dos algoritmos parece um
objetivo distante. É
uma disputa de gato e rato. As pessoas criam técnicas para manipular os
algoritmos e os programadores criam novos algoritmos num ciclo infinito.
Se
a interferência de contas falsas em discussões políticas nas redes sociais já
representava um perigo para os sistemas democráticos, sua sofisticação e maior
semelhança com pessoas reais têm agravado o problema pelo mundo.
O
uso dos ‘ciborgues’ revela um desafio para uma futura legislação. A dificuldade
de identificar e rastrear o uso de robôs nas redes sociais torna quase
impossível a proibição e a punição.
Os
‘ciborgues’ evoluem muito rapidamente. Está cada vez mais difícil e complexo
diferenciar conteúdo produzido por uma pessoa real ou uma máquina. Os
robôs mais modernos funcionam automaticamente. Os menos evoluídos agem sempre
sob o comando de alguém.
Sendo
assim, as eleições não podem ser mais reguladas só no aspecto físico das
campanhas, sem considerar o mundo virtual, uma vez que o mau uso das redes
sociais pode distorcer a democracia e os resultados de uma eleição.
Para
alcançar seus objetivos, os ‘ciborgues’ garantem uma quantidade de posts
superior ao do público que geralmente apresenta contraposições políticas aos
argumentos trazidos nas notícias falsas.
Para
isso, estimulam pessoas reais e militâncias políticas a encamparem suas
opiniões, criando uma noção de maioria, se constituindo, assim, um perigo para
a democracia, que só funciona bem quando há informação correta circulando nas
redes sociais.
Há
evidências relevantes de que os ‘ciborgues’ são usados em eventos políticos
como eleições para silenciar oponentes e impulsionar mensagens em plataformas
como Twitter e Facebook.
Perfis
falsos criam "reputação" e parecem ser legítimos adicionando pessoas
aleatórias com o objetivo de colecionar amigos reais. Ao confundir e envenenar
o debate político on-line, os robôs ameaçam a democracia e fortalecem a mão de
Estados autoritários.
Pessoas
reais chegam a dar parabéns aos ‘ciborgues’ em aniversários e fazem comentários
elogiosos a fotos de perfil, ajudando a criar a sensação de que são
verdadeiros. É desta forma que, inadvertidamente, usuários reais contribuem
para a criação de "reputação".
Os
perfis falsos interagem entre si. Quando um ‘ciborgue’ é
"desmascarado" por algum usuário das redes sociais ou desativado pelas
plataformas tecnológicas, logo surge outro para substituí-lo, vindo de um
grande banco de perfis falsos mais sofisticado.
Os
perfis falsos representam uma crescente preocupação no mundo ao lado das ‘Fake
News’ (notícias falsas), facilmente compartilhadas nas redes sociais. Nos
Estados Unidos, os resultados das análises quantitativas confirmam que os
‘ciborgues’ alcançaram posições de influência mensurável durante a eleição
presidencial, em 2016, no ferrenho embate entre Hillary Clinton e Donald Trump.
Tanto
na campanha derrotada de Hillary Clinton como na de Donald Trump, foram usadas
contas automáticas no Twitter, mas a rede democrata tinha apenas um quinto da
atividade da republicana. Na Rússia, cerca de 45% da atividade no Twitter é
controlada por contas automáticas controladas por campanhas de desinformação.
Especialistas
alertam que deve haver maior transparência e regulação nas plataformas como o
Facebook, que deve começar a agir como se fosse um Estado, já que virou a nova
esfera pública onde acontecem discussões e interações entre as pessoas.
Ou seja, a plataforma deve começar a se autorregular, se não quiser ser regulada pelos Estados, um cenário também não livre de polêmicas, tendo em vista a ameaça à liberdade de expressão.
Ou seja, a plataforma deve começar a se autorregular, se não quiser ser regulada pelos Estados, um cenário também não livre de polêmicas, tendo em vista a ameaça à liberdade de expressão.
Parabéns!!! brilhante artigo. Tema atual polêmico e perigoso!
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