Por Antonio Carlos Lua
A
falta de sensibilidade dos grandes empresários de comunicação que, com uma
visão obscurantista do Jornalismo, apostaram nas políticas desregulamentadoras
neoliberais, gera hoje efeitos perversos nas já vilipendiadas prerrogativas dos
jornalistas profissionais.
A
evolução das mídias exige jornalistas qualificados e a desregulamentação da
profissão beneficia apenas aqueles que buscam a fama da bazófia e querem fazer
do Jornalismo uma atividade inútil e sem relevância, engessando a informação.
De lead por lead, o Jornalismo não vai a lugar nenhum e castiga os leitores e a
sociedade.
A
crise e o declínio de grandes jornais com tradição na imprensa são reflexos do
Jornalismo hipertélico. Com mais produtores do que consumidores, ele ultrapassa
os seus próprios fins, perde a capacidade de autocrítica e reduz o Jornalismo a
uma encenação de pluralismos.
Restabelecer
a ordem jurídica na profissão e exigir formação acadêmica para o desenvolvimento
de uma atividade profissional importante como o Jornalismo é uma questão de
justiça e não significa cercear a liberdade de expressão de alguém, como alegam
os proprietários de grandes complexos de comunicação no Brasil.
É
razoável exigir que exerçam o Jornalismo apenas profissionais graduados,
preparados para os desafios de uma atividade tão sensível e fundamental, que
repercute diretamente na vida do cidadão. Sem isso, a sociedade deixa de contar
com uma salvaguarda mínima.
Jornalistas
profissionais têm uma visão particular da função que exercem, tendo uma
deontologia própria para circunscrever os limites de sua atuação no campo
social do trabalho.
Não
é uma questão só de talento. É uma questão de rigor, de critérios, de vontade,
de vocação, habilidade de escrita, agilidade no raciocínio, formação crítica e
disciplinamento ético. Desenvolver uma atividade complexa e dinâmica como o
Jornalismo depende muito da formação técnica de quem a exerce.
O
mundo muda constantemente, as sociedades tornam-se mais complexas, o trabalho
passa a ser dividido cada vez mais e certos conhecimentos se desenvolveram de
tal forma que se constituem hoje terrenos próprios do saber.
Portanto,
escrever um texto jornalístico é atividade exclusiva do jornalista. Da mesma
forma, fazer petições, preparar uma defesa ou representar um cliente nas barras
de um tribunal são funções de um advogado.
Assim
como outras profissões, o Jornalismo tem o seu valor social e é fundamental
para a construção da cidadania, até porque a sociedade se sente representada e
assistida pelos jornalistas, que denunciam os males presentes na vida política
do país, revelando as práticas daqueles que ainda alimentam hábitos enraizados
na inversão dos meios e do fim da coisa pública.
Sem
profissionais que cumpram a sua relevante função social de produzir cultura
respeitando normas, valores e princípios focados nos interesses da sociedade, o
Jornalismo tende a retroceder.
Jornalismo
de verdade se faz optando pela informação de qualidade e assumindo efetivamente
a agenda do cidadão, separando a notícia do lixo declaratório. O centro do
debate tem que ser sempre o cidadão, permitindo à sociedade uma análise dos
eventuais descompassos nas questões sociais, políticas, econômicas e culturais.
Jornalismo
de registro, pobre e simplificador não interessa à população, pois ele oculta a
verdadeira dimensão dos fatos e beneficia os “plantadores de notícias” que agem
em defesa de interesses escusos.
Como
agentes de comunicação, os jornalistas têm responsabilidades profissionais
maiores e, para exercer a profissão, prescindem de formação congruente com o
papel que assumem no mundo do trabalho.
O Jornalismo exige uma entrega total, passando sempre pelo manejo criativo e
respeitoso da língua. A língua, por sinal, é o registro do mundo do jornalista
e o seu elo com os leitores e a sociedade. Quem não vive a palpitação
sobrenatural da notícia não pode ser jornalista.
A fala de um jornalista, apaixonado pela profissão nos conduz sempre a reflexões profundas sobre a realidade que nos cerca. Gratidão Antonio Carlos suas contribuições me levam sempre para um outro patamar de análise. Essas indagações servem para me inquietar, e sair do conforto das verdades estabelecidas. Um Viva os jornalismo e aos bons jornalistas!
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