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domingo, 7 de abril de 2019

Brasil: uma moderna colônia norte-americana

Antonio Carlos Lua

O Brasil abre suas portas para a reinserção pragmática dos Estados Unidos na América Latina com o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas que concede o uso comercial da Base de Alcântara, no Maranhão, para fazer do nosso país uma moderna colônia norte-americana. 

Caso o acordo seja aprovado no Congresso Nacional, os norte-americanos voltarão a se sentir interventores e donos do Brasil, trazendo para si a missão de salvaguardar a nossa soberania, esmagando um país subserviente, com reduzida capacidade estratégica e graves debilidades democráticas.

O famigerado acordo vem demarcar a base da política externa estadunidense na América Latina, fazendo valer a doutrina “América para os americanos”, apresentada, em 1823, ao Congresso dos Estados Unidos, pelo então presidente James Monroe. 

Embora o Governo negue sistematicamente, as premissas do acordo incluem a criação de uma área de domínio dos Estados Unidos, proibindo a utilização da base pelo Brasil, devido à confidencialidade tecnológica, aumentando a ingerência dos norte-americanos no país.

Certamente, ao assumir o comando da Base de Alcântara, os norte-americanos não dirão explicitamente que brasileiro não pode ter acesso às instâncias do complexo tecnológico, mas poderão condicionar a presença de cientistas a uma credencial de segurança. 

Como os norte-americanos terão poder de veto, hipoteticamente, um engenheiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais pode ser vetado se for considerado capaz de assimilar a tecnologia deles. 

Por razões técnicas e estratégicas, os EUA sempre desejaram ocupar a Base de Alcântara, tendo em vista a notável vantagem em termos de economia energética e viabilidade operacional.

A latitude privilegiada (2ºS), praticamente sobre a linha do Equador, com a força de rotação da Terra gera melhor aproveitamento para impulsionar satélites. A redução dos custos com combustível, comparado com o Cabo Canaveral (EUA) e Baikonur (Russia) varia de 13 a 31%.

Com o controle da base os EUA pretendem também continuar com o paradigma de ser a influência na América Latina, uma vez que ficou claro que a China pode se tornar esse paradigma com o desenvolvimento tecnológico do país asiático nos últimos tempos no continente.

Como hoje é real uma ameaça chinesa para as premissas de quase dois séculos da política externa dos Estados Unidos para a América Latina, os norte-americanos querem conter a emergência de novas potências com a Base de Alcântara sob seu comando, para  impor sua hegemonia geopolítica na região.

Assim, a primeira medida dos EUA quando for aprovado o acordo pelo Congresso Nacional será frear o avanço da China que – além de controlar hoje uma Base Espacial na Argentina, na província de Neuquén – registra uma ascensão com o aumento dos preços das commodities que redirecionam a política comercial cada vez mais intensamente para a Ásia. 

Para os Estados Unidos, o controle da Base de Alcântara é condição sine qua non para qualquer que seja seu interesse político na América Latina, onde, com exceção da Venezuela, Cuba e Bolívia, nenhum país se contrapõem a política externa agressiva norte-americana. 

Aliás, convém frisar que a própria Venezuela, mesmo com sua oposição retórica aos EUA, destina 40% da produção de petróleo aos norte-americanos. 

Já o Brasil, a Argentina e o Chile sempre se ajoelharam para os Estados Unidos, mostrando-nos que discursos político-ideológicos não se constituem aferidor confiável de convicção política.

Houve um momento em que a Agência Espacial Brasileira cogitou sair de Alcântara, mas mudou de ideia quando viu a possibilidade de implantar no município o mesmo projeto desenvolvido na Guiana Francesa que, à época, tinha Kourou como a maior base equatorial de foguetes do mundo. 

Em 2003, o VLS-1 V03 explodiu na Base de Alcântara, matando 21 cientistas. Na época, foi levantada a hipótese de sabotagem dos franceses, quando foram encontradas boias de comunicações em praias próximas de Alcântara, com capacidade de enviar, transmitir e medir frequência. 

A Agência Brasileira de Inteligência fez pelo menos três operações de contraespionagem cujos alvos eram espiões franceses.

A Base de Alcântara foi a segunda implantada no Brasil. Foi instalada numa área de muitos quilombos, violando direitos humanos nas comunidades de Espera, Cajueiro, Ponta Seca, Suassim, Petital, Marudá e Perú.

Na época, existiam 208 comunidades em Alcântara, com 90% delas remanescentes de quilombos. O município foi um dos grandes celeiros de fazendas e engenhos de cana-de-açúcar e algodão há 400 anos, com o trabalho mantido por mãos escravas. 

Atualmente, mais de 60% da área geográfica do município de Alcântara está sob o controle do Ministério da Aeronáutica.

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