Antonio Carlos Lua
Estão em curso duas grandes guerras no planeta. A primeira, a dos homens contra os próprios homens. A segunda, a dos homens contra a natureza. Embora sejam aparentemente diferentes e combatidas com armas diferentes, elas estão reunidas sob o mesmo objetivo: o domínio.
A guerra dos homens contra os próprios homens acontece de modo semelhante ao passado. A diferença está nas armas utilizadas. Agora, além das armas de fogo, existem também as armas financeiras poderosas, capazes de colocar povos de joelhos, fazê-los passar fome sem derramar sangue.
Já a guerra do homem contra a natureza começou quando o homem entrou na modernidade e imaginou ser o proprietário do planeta, cortando o galho da árvore sobre o qual está sentado, esquecendo que a natureza não é infinita e tem limites que estão a ponto de serem superados.
Vivemos numa realidade escamoteada pela voracidade das demandas de acumulação do capital, que se sustentam na firme e dogmática crença no poder todo-poderoso das ditaduras odiosas, da exploração excessiva de recursos naturais pelos “conquistadores”, que pretendem ser uma raça especial de humanos.
Diante da envelhecida visão de dominação e exploração – sustentada no divórcio profundo entre a economia e a natureza – surgem no horizonte várias mensagens de alerta, diante dos crescentes problemas climáticos globais.
Os limites da natureza estão sendo aceleradamente ultrapassados com o estilo de vida antropocêntrico, exigindo uma nova ética que nos faça entender que não somos Deus e que a natureza foi chamada de Gaia – deusa grega primordial da potência da Terra – por ser um gigantesco organismo responsável pelo cordão umbilical da vida no planeta.
Não podemos continuar aniquilando a natureza com o progresso modernizante pelo qual plantas, animais e escravos humanos são literalmente consumidos para aumentar a energia para as classes dominantes e impérios.
Conviver é o verbo certo. Dominar, o errado. A modernidade confundiu os verbos. Como afirmava Galileu, o Livro da Natureza está escrito nos símbolos da matemática. Uma guerra justificada pela necessidade do desenvolvimento e do progresso mostra um homem incoerente e arrogante.