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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Apóstolo da resistência

Antonio Carlos Lua

No dia 3 de abril de 1968, o ativista Martin Luther King, um dos líderes mais importantes na luta pelo direitos civis na história norte-americana, estava em Memphis, Tennessee, nos Estados Unidos, para apoiar a greve de trabalhadores negros da limpeza urbana. 

Lá, ele fez o discurso histórico – quase uma profecia – intitulado “Eu estava no topo da montanha”, um de seus pronunciamentos mais famosos, afirmando que Deus tinha lhe permitido subir ao topo da montanha para olhar a ‘Terra Prometida dos Povos Negros’. 

No dia seguinte, Martin Luther King – que vinha recebendo muitas ameaças de morte – foi assassinado por James Earl Ray, num episódio até hoje envolto em mistério, que tornou-se o pesadelo real dos afro-americanos que perderam uma voz poderosa e um corajoso testemunho à justiça social.

Ícone da luta pela igualdade racial, Luther King tornou-se um símbolo universal que viu no retorno de Israel a Canaã a figura da liberdade alcançada pelos negros. 

Ele levou a sério a dimensão ética de suas atuações, os riscos que elas implicavam e a complexidade das situações. Proclamando o poder revolucionário da sua crença, acreditava que seu país deveria passar por uma revolução de valores.

Se contrapôs radicalmente às chamadas leis de Jim Crow, que estabeleceram a segregação racial nos Estados Unidos no final do Século XIX. Ao lutar pelos direitos civis, ele queria redimir a alma da América, gesto que pesa hoje no além-atlântico. 

Pastor da Igreja Batista, na Dexter Avenue, em Montgomery, Alabama, Luther King via a fé como um chamado urgente para servir, uma ética altruísta de preocupação que, segundo ele – citando o profeta hebreu Amós – faz correr "a retidão como um rio e a justiça como um ribeiro perene”. 

Dizia que, em vez de herdar a fé, ele próprio teve de estabelecer os termos de sua relação com o Todo-poderoso. Certamente ele gostaria que vivêssemos sua fé específica que consiste em lutar para vencer o racismo e combater a pobreza com políticas públicas iluminadas e compassivas.

Ele elaborou a teoria da resistência não violenta como alternativa mais segura, enriquecida com o encontro do pensamento de Mahatma Gandhi, cuja forma de manifestação pacífica representou a “Satyagraha”, termo que o líder indiano usou para nomear a filosofia que o tornou mundialmente conhecido.

Luther king foi a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1964, com 35 anos. Reconhecido como um incansável apóstolo da resistência, foi o paladino dos rejeitados e marginalizados. Sempre se expôs na linha de frente para derrubar na sociedade estadunidense o preconceito étnico. 

Com coragem altruísta, viveu fielmente a missão de lutar por um mundo socialmente justo e racialmente igualitário. Sua mensagem permanece viva e é extremamente válida para os nossos tempos em que as desigualdades, as rejeições, as exclusões e os muros entre os povos, em vez de diminuir, tendem a crescer. 

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