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domingo, 28 de julho de 2019

O recado da ciência


Antonio Carlos Lua 

Na noite do dia 20 deste mês nosso olhar foi novamente direcionado, com emoção, ao céu, para observar aquela Lua na qual cinquenta anos atrás um homem pisava pela primeira vez, abrindo o horizonte da humanidade para novos mundos. 

Ao tempo em que se comemorava aquele evento excepcional, duas notícias sobre um Planeta Terra cada vez mais torturado nos colocaram dramaticamente com os pés no chão. 

A primeira notícia veio da Islândia, onde a partir de agosto uma placa lembrará o Okjökull, o primeiro dos 400 glaciares do país a desaparecer devido ao aquecimento global. Todas as nossas geleiras poderão seguir o mesmo caminho. 

A segunda notícia mostrou ao mundo a imagem do rosto atônito de um indío Awá que, no verde exuberante da floresta amazônica brasileira, mostrava-se assustado com o saque violento dos ricos recursos naturais do território indígena.

Pagaremos um preço alto com a espiral destrutiva na qual a Terra foi projetada com o modelo econômico não sustentável, com políticas de visão curta e comportamentos perversos, que colocam em risco populações e uma riquíssima carga de história e cultura. 

Vários sinais de alerta foram acionados nos últimos cinquenta anos, mas, mesmo assim, cometemos o erro de subestimá-los e ignorá-los. Negamos uma verdade importante, que implicará na nossa sobrevivência. Nos recusamos a ouvir o grito silencioso da terra, da natureza.

Hoje, aquele pequeno montículo de gelo que emerge com dificuldade entre as rochas é um triste simulacro de um gigante milenar agora irremediavelmente perdido. 

Aquele olhar alarmado do índio Awá nos coloca cara a cara com as nossas responsabilidades em relação à natureza, que infelizmente tornou-se hoje uma mera moldura nas nossas vidas.

Temos pouco mais de uma década para reverter o curso. É difícil dizer se é um excesso de pessimismo, mas dados recentes não levam a uma visão otimista, quando observamos o mais rápido aumento das temperaturas nos últimos dois mil anos.

O recado da ciência é claro. Estamos numa situação de emergência planetária e poderemos conhecer catástrofes nunca vistas antes. 

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