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sexta-feira, 10 de abril de 2020

A trama de um poder que difunde meias verdades


Antonio Carlos Lua

Não devemos mascarar a culpa dos chineses no avanço do coronavírus, cujo cenário polêmico em que foi criado é bem conhecido, inclusive pelas prisões e desaparecimento de jornalistas que buscaram a verdade.

Há uma negação da catástrofe, mas a realidade está no encalço do imperador da China, Xi Jinping, líder do Partido Comunista, mesmo com a propaganda espetacular que difunde meias verdades ao mundo. 

Cabeças rolam na China, enquanto a repressão aumenta ferozmente sobre os jornalistas. A trama é obra de um poder que gostaria de controlar tudo no planeta e teve a proeza de construir alegremente um gigantesco hospital em dez dias, com falsas mensagens de vitória sobre o controle do coronavírus. 

Será que os cidadãos que viajam, leem e observam o mundo se contentam com a resposta formatada e coercitiva das autoridades chinesas sobre o coronavírus? A aprovação do mundo em relação aos métodos chineses permanecem sem reservas?

Na China, o coronavírus apareceu em um clima de grande desconfiança com um sistema de saúde notoriamente saturado e subfinanciado (5% do PIB). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), lá existe 1,5 médico por 1.000 pessoas. 

Os hospitais, em sua maioria, são velhos e desaparelhados. A corrupção dos profissionais da saúde mal remunerados ganham manchetes nos jornais. A medicina liberal não existe no país. Muitas clínicas são desprovidas de equipamentos, com o agravante de terem médicos não diplomados exercendo irregularmente a medicina. 

Como se percebe, a confiança não é algo patente em relação a China, onde as reações dos cidadãos à crise na saúde não existem, tendo em vista as violentas retaliações  políticas. Na ausência de informações confiáveis, em quem acreditar? O que fazer? 

Por que a China só tomou providências para conter o coronavírus quando ele já tinha saído do país e se espalhado pelo mundo? Por que a oficialização da existência do alastramento da covid-19 em Wuhan se deu de maneira atrasada? 

Por que o jornalista Li Zehua, o advogado Chen Qiushi e o comerciante Fang Bin, desapareceram após filmarem a situação do coronavírus em Wuhan, postando seus testemunhos nas redes sociais?

Por que Xu Zhiyong, militante dos direitos civis, que criticou abertamente a forma como Xi Jinping lidou com a crise do coronavírus no país foi preso e não se sabe se está vivo ou morto?

O próprio cientista chinês, especialista em doenças respiratórias, Zhong Nanshan, afirmou, em estudo publicado na revista científica, ‘Caixin’, que os médicos reagiram cedo ao surgimento da covid-19, mas o governo da China não aplicou as medidas para deter o vírus em tempo hábil, embora com o alerta sobre o poder destrutivo do coronavírus pelo médico Li Wenliang, que acabou morrendo contaminado pelo coronavírus.

Afirmação de Zhong Nanshan é sólida, pois parte de um cientista respeitado na China e no mundo e que se dispôs a divulgar uma conclusão explosiva, sendo um indicativo de que a questão é realmente muito séria.

É louvável a coragem e a velocidade dos pesquisadores chineses para publicar suas conclusões em revistas científicas internacionais, informando sobre os estudos acerca do surgimento da covid-19 na China.

Quanto aos jornalistas que estão na linha de frente para esclarecer a questão, é necessário uma mobilização mundial para que desta vez a faca da censura não impeça que as lições do desastre da covid-19 não sejam assimiladas pelo mundo.

Daí a importância dos cientistas passarem seus testemunhos, para não dar cegamente ao poder chinês a possibilidade de continuar escondendo a verdade sobre o coronavírus que, muito mais que um agente infeccioso, é um revelador implacável de que muitas vezes não queremos ver o que está diante dos nossos olhos.

Olhando para as origens das pandemias anteriores podemos verificar que as gripes de 1958 e 1968 vieram da China. Da China vieram também o Sars, em 2002, a gripe suína, em 2009, e agora, a Covid-19. 

Só que o Partido Comunista acha que não precisa prestar contas para ninguém e tem adotado uma postura beligerante. A China resiste em colaborar com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as demais agências especializadas internacionais. 

Os dados até agora divulgados pela China sobre o coronavírus não são confiáveis. Mesmo assim, o diretor da Organização Mundial de Saúde tem aceitado as parcas informações, com medo de ofender os chineses. 

Depois de fingir durante dois meses que nada estava errado no país, o governo chinês decretou uma série de medidas drásticas, estabelecendo uma ferrenha censura no país e não aceitando qualquer crítica do descaso inicial. 

Há inúmeras incoerências do governo chinês que preocupam o mundo inteiro. Uma delas é semear dúvidas sobre a origem do coronavírus e exigir o agradecimento do resto do mundo passando a ideia que sozinha e com sua própria força barrou decididamente o coronavírus no país. 

Na China 1,4 bilhão de habitantes (92%) são da etnia ‘han’, que são ensinados a pensar que, como detentores de uma civilização de 5 mil anos, são superiores aos demais. Na rua, os poucos negros são rotineiramente chamados de “macacos”, os japoneses de “bárbaros peludos” e os brancos de “yangguidz”, ou “demônios-fantasmas de além-mar”.

A China tem o direito de se governar do jeito que quiser. Mas não pode, de maneira alguma, brincar com a saúde do resto do mundo só para proteger os interesses de uma elite que acha que todo mundo que não é “han” é inferior. Aí está o grande perigo. A Covid-19 vai passar. A prepotência da China, não.

Prometendo um caminho de prosperidade crescente, o imperador chinês do Partido Comunista, Xi Jinping, não deve ter um sono nada tranquilo com um inesperado e invisível inimigo que pode colocar tantas conquistas a perder chegando na hipótese mais negativa a abalar o projeto de ascensão da China como superpotência dominante no mundo.

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