Os minérios de sangue, fonte de renda de milícias que agem criminosamente na África, eram – até a primeira visita do Papa Francisco ao continente – um assunto praticamente ignorado no mundo, mesmo com guerras civis atingindo níveis de crueldade extrema, principalmente na República Democrática do Congo, onde o Pontífice fez, nos últimos dias, uma visita profética.
Falharam-lhe as pernas, mas não a vontade de conversar, mesmo numa cadeira de rodas, com as vítimas da guerra e da injustiça na quadragésima viagem à África no seu pontificado. Suas intervenções no continente africano – como todos que o conhecem já esperavam – foram claras e incisivas. Tocou em pontos nevrálgicos como era necessário e urgente. Tudo foi cirúrgico: os encontros, as intervenções e as celebrações com os africanos.
Ele usou os diamantes como imagem para falar do melhor e do pior que marcam o dia a dia da população num continente riquíssimo onde as pedras preciosas de carbono, ouro, diamantes, coltan e outras riquezas minerais estão na origem de todas as tragédias que afetam hoje os africanos.
“Tirem as mãos da Àfrica! Os africanos têm de ser os protagonistas do seu destino!” Não podemos habituar-nos ao sangue que, há décadas, corre no continente africano, ceifando milhões de vidas! Parem de sufocar a África! Este continente não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear! Que a África seja protagonista do seu destino!”, assinalou, de forma enfática, o Papa Francisco.
Essa talvez tenha sido a mais radical afirmação do Pontífice num continente atormentado por guerras sangrentas, padecendo com as mais variadas formas de exploração com o veneno da ganância tornando os seus diamantes ensanguentados, ceifando milhões de vidas, exigindo um necessário recomeço social, corajoso e inclusivo.
Atormentada pela guerra, a África continua a padecer com conflitos, migrações forçadas e terríveis formas de exploração, indignas do ser humano, como disse o Papa Francisco usando como imagem simbólica o diamante. Seu périplo no continente africano começou na República Democrática do Congo (antigo Zaire), chegando depois no Sudão do Sul, jovem nação que se tornou independente em 2011.
Na África, Francisco mostrou que não perde a marca missionária que a condição de padre jesuíta lhe confere, provando que a missão católica não é proselitista e anuncia o Evangelho segundo a cultura de cada lugar, dando a sua contribuição para a paz, sendo esta a finalidade essencial que anima a Igreja Católica no diálogo ecumênico e inter-religioso com o judaísmo, com o islamismo e com todas as correntes do cristianismo.
Em suma, uma viagem à África na qual o bispo de Roma sintetiza um propósito missionário, juntamente com as denúncias de situações de injustiça que aquela região do mundo vive, fazendo um novo apelo à comunidade internacional sobre os problemas dos africanos, significa a continuidade da pregação papal em favor da paz num contexto de múltiplas situações de violência, confrontos políticos derivados de disputas econômicas.
Munido pelo melhor de suas habilidades diplomáticas, o Papa cumpre na África a sua missão de pregar a paz num espinheiro de violência. "Deponham esses instrumentos de morte! Armem-se, em vez disso, com a justiça, o amor e a misericórdia, autênticas garantias de paz! “, enfatizou o Pontífice, dirigindo-se às autoridades políticas dos países em guerra no continente africano.
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