ANTONIO CARLOS LUA
Uma cruz está erguida no local onde a religiosa missionária da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, Dorothy Stang, foi assassinada, em 12 de fevereiro de 2005, nas proximidades do município de Anapu, no Estado do Pará. Arquetipicamente alegre, sorridente e fraterna, Dorothy Stang tinha uma rara coragem cristã.
Ela passou quase 40 anos no Brasil trabalhando como defensora dos indígenas e da floresta tropical, mergulhando nas culturas das famílias ampliadas que ela se dispôs a servir como missionária católica, na mesma linha de outras missionárias da congregação Notre Dame de Namur que morreram em guerras e levantes como baluartes da fé comprometida com a justiça.
Dorothy Stang nasceu em 1931, em Dayton, Ohio, Estados Unidos. Chegou ao Brasil na década de 1960. Desempenhou seu trabalho diretamente nas comunidades amazônicas, reconhecendo a realidade marcada pela desigualdade e pelas relações construídas pela exploração da floresta e das populações empobrecidas, indígenas, ribeirinhos e trabalhadores.
Nas terras de Anapu, na Amazônia, Dorothy Stang plantou em solo brasileiro a semente de um novo modo de pensar, de se relacionar com o mundo, com a construção de novos valores, partindo da perspectiva de que "Deus está em todas coisas" e caminha com os desfavorecidos.
Muito antes de entrar no centro do debate da Igreja Católica com a encíclica publicada pelo Papa Francisco, ‘Laudato Si', as percepções religiosas de Dorothy Stang já apontavam a necessidade de uma mística associada com a ecologia.
Ela acreditava que o divino está em todo o lugar e que Deus nos deu esta grande terra para ser compartilhada por todos nós. Dorothy Stang não construiu um legado apenas místico. Ela teve também na sua prática religiosa uma ação transformadora.
Ela soube conciliar a espiritualidade e a ação política. Dizia com firmeza e convicção que não iria fugir nem abandonar a luta dos trabalhadores desprotegidos no meio da floresta. Tudo que ela tentou estabelecer foi o desenvolvimento integral dos povos da floresta na relação do homem com a natureza, trazendo para a prática a Teologia da Libertação em pleno Século XXI.
Dorothy Stang foi vítima daquilo que enfrentava: a exploração da terra e dos pobres em favor do lucro e da ganância de poucos. O seu legado ainda brota e se constitui como inspiração para o ponto de inflexão que se encontra a Igreja e todo o mundo. Ela está viva na memória de quem continua lutando em defesa da Amazônia, sendo um símbolo de novos caminhos num legado posto em pauta através do processo sinodal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário