Antonio Carlos Lua
O mundo assiste, atônito, desde de outubro de 2023, a desenfreada escalada de sangue e selvageria no conflito de grande proporção entre os israelenses e o grupo extremista islâmico Hamas, que nada mais é do que uma comprovada invenção política de Israel por mãos do ex-primeiro-ministro do país, Yitzhak Rabin, para desacreditar e matar, em 2004, o principal inimigo do Estado judeu e líder laico da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat. Numa conversa entre o Rei Hussein, da Jordânia, e embaixadores judeus, o próprio Yitzhak Rabin admitiu o desastroso acordo, afirmando que o "apoio ao Hamas foi o erro mais grave cometido por Israel na sua história". Poucos meses depois da declaração, Yitzhak Rabin foi assassinado por um extremista judeu.
Já o líder palestino, Yasser Arafat, foi envenenado em 11 de novembro de 2004 com polônio radiativo, conforme testes feitos em amostras retiradas do seu próprio túmulo na cidade palestina de Ramallah, onde seu mausoléu foi aberto. Antes de morrer, Arafat assinou os acordos interinos de paz com Israel, em Oslo, em 1993, e liderou uma revolta posterior, após o fracasso das negociações, em 2000, sobre um acordo definitivo. Para mostrar os escorregadios backgrounds dessa guerra que, infelizmente, não dá sinais de acabar, é importante ressaltar que os conflitos entre os Israelenses e os palestinos começaram a se desenhar após a Segunda Guerra Mundial, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) cedeu uma porção da terra para o povo judeu, antes habitada por árabes cuja maioria protestou, veementemente, contra o fato de a nação israelita ocupar aquela terra.
O genocídio sofrido pelos judeus na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial, chocou o mundo e estabeleceu as condições políticas para que um Estado judeu pudesse ser criado na Palestina. A Inglaterra – autoridade colonial da região na época – abriu mão de seu domínio e entregou a disputa de palestinos e judeus para a ONU. Havia nessa divisão uma grande contradição, pois os judeus, que correspondiam a 30% da população, ficariam com uma parcela maior do território. Os palestinos, por sua vez, correspondiam a 70% da população e ficariam com uma parcela menor, num território que concentrava as terras menos férteis e com acesso mais limitado à água potável.
Dessa forma, a proposta foi aceita pelos judeus, mas foi rejeitada pelos árabes. Mesmo assim, ela foi aprovada pela ONU, em novembro de 1947. Revoltadas, as nações árabes, inimigas de Israel – incluindo a Jordânia, Síria, Arábia Saudita, Iraque e o Egito – resolveram se unir para atacar Israel, mas foram derrotadas, aumentando ainda mais a hostilidade entre Israel e seus vizinhos árabes. Os conflitos entre Israel e a Palestina, portanto, são travados desde a década de 1940 com os dois lados reivindicando o seu próprio espaço de soberania. A área de disputa entre os dois lados em questão localiza-se no Oriente Médio, mais precisamente na Palestina, tendo como foco a cidade de Jerusalém, um ponto de forte potencial turístico religioso, considerado um lugar sagrado para as três grandes religiões monoteístas do planeta: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo.
Hoje, tanto o grupo extremista Hamas, como o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prestam o pior dos seus serviços aos seus respectivos povos, alimentando o terror, medo, luto e destruição, esquecendo que não há heróis numa guerra que mata crianças. Se a assistência e apoio militar do Irã ao Hamas é um erro, o mesmo ocorre com os Estados Unidos, que vêm garantindo ao governo de Israel a transferência de novos e letais armamentos. Sob o prisma religioso, o conflito entre Israel e Palestina remonta ao ano de 1850 (a.Cristo), quando um velho mercador da cidade de Ur, na Mesopotâmia (atual Iraque), recebeu um chamado de Deus. O Senhor ordenou-lhe que juntasse todos os seus pertences, abandonasse seu país natal e partisse em busca de um novo lar, rumo ao oeste, ou seja, a terra de Canaã.
Lá o mercador devia estabelecer sua descendência e dedicar-se ao culto de seu benfeitor, Jeová, o Deus único – uma novidade naqueles tempos politeístas. Assim seguiu Abraão, com seu séquito de parentes, escravos e concubinas. Ao longo da jornada, o favorito divino teve dois filhos. O mais velho, nascido de sua serva Agar, foi batizado de Ismael. O segundo, filho de Sara, esposa legítima do patriarca, recebeu o nome de Isaac. Segundo a lenda, os tataranetos de Abraão deram origem a dois povos – árabes e judeus – de aparência, língua e cultura muito parecidas, mas que agora se entrincheiram em lados opostos no 'front' da política internacional. Essa história vem inteiramente de relatos religiosos. A Torá, livro sagrado judaico que corresponde ao Velho Testamento cristão, aponta Isaac como o antepassado dos judeus. O Corão, por sua vez, remonta a genealogia dos árabes até Ismael, o primogênito de Abraão.
Todos esses personagens talvez não passem de mitos. Mas o estreito parentesco entre árabes e judeus é consenso científico. Em 2000, cientistas europeus, israelenses e africanos coletaram os cromossomos de 1,3 mil homens de ambas as etnias, em mais de 30 países ao redor do mundo. Os estudos conformaram que o DNA dos árabes e dos judeus são idênticos. Ou seja, as duas nações descendem de uma mesma tribo, que viveu em algum lugar do Oriente Médio por volta de 4000 (a. Cristo) – muito antes de Abraão. Portanto, israelenses, palestinos, sírios, egípcios e libaneses não são apenas primos. São irmãos genéticos.