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sexta-feira, 5 de abril de 2019

Sinais dos tempos

Antonio Carlos Lua

A cena em que o Papa Francisco retira continuadamente a mão direita todas as vezes em que fiéis tentam se ajoelhar para beijar o Anel do Pescador repercute até hoje e o imortalizou pela estranheza que causou diante de uma tradição institucional no Vaticano. 

O Anel do Pescador é o símbolo que todo sucessor de Pedro – o primeiro Papa da Igreja – usa durante o seu pontificado. 

Por tradição, o anel é de ouro maciço e quando um Papa morre o camerlengo declara ‘Vere Papa mortuus est’ (O Papa está realmente morto), removendo, em seguida, o anel do cadáver para derretê-lo e com ele remodelar o anel para o novo Pontífice.

O Papa Francisco, no entanto, optou por usar o mesmo anel dos tempos de arcebispo, em Buenos Aires (Argentina), em prata dourada, tornando-se, assim, o primeiro Santo Padre a não ostentar uma joia pertencida a outro Pontífice. 

Convencido de que a Igreja deve ser simples e imersa nas raízes do povo, Francisco – desde o início do seu pontificado – sempre demonstrou grande desconforto em usar símbolos sagrados demasiadamente opulentos.

Os católicos conservadores que costumam acusar o atual Papa de se desviar da doutrina e da tradição da Igreja Católica, agora suspeitam que ele pretende acabar com os ritos tradicionais e milenares da Igreja. 

Na verdade, o Papa Francisco quer erradicar gestos de submissão, próprios de um clericalismo que representa um dos cavalos de batalha do seu pontificado. 

Ele tenta mostrar que a ‘adoratio’ (adoração) com sua pessoa não é necessária, uma vez que a Igreja deve ser serviço, nada mais, nada menos.

Francisco não gosta de falsos louvores e é um exemplo clássico da necessidade de mudanças radicais e profundas na Igreja Católica. Passou o tempo de riquezas e "ouropéis", e dos Papas infalíveis. 

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