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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Cultura de paz

Por Antonio Carlos Lua

Em tempos difíceis e em que a discussão sobre a cultura paz é colocada em plano secundário, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) deflagra, em todo o Brasil, a ‘Campanha da Fraternidade 2018’, concentrando o olhar e os esforços sobre o combate à violência. 

Com um tema pertinente e atual – “Fraternidade e Superação da Violência” – a campanha traz um lema apoiado na Bíblia – "Vós sois todos irmãos” – retirado do Evangelho de Mateus, capítulo 23, onde Jesus repreende os fariseus e mestres da lei, cujas práticas não eram coerentes com os seus discursos. 

Os fariseus e mestres da lei valorizavam a sociedade hierarquizada e Jesus propôs-lhes um novo modelo mais comunitário e fraterno. 

A temática foi definida diante da percepção de que o mal é algo que afeta gravemente a toda a humanidade, sendo necessária a proposição de um diálogo amplo com todos os setores da sociedade civil organizada, para que as pessoas busquem – independentemente de suas diferenças – viver em meio a uma cultura de paz. 

A CNBB aponta a urgência de uma profunda discussão sobre violência no Brasil que, apesar de possuir menos de 3% da população mundial, responde por quase 13% dos assassinatos do planeta.

A campanha foi lançada nesta quarta-feira de cinzas (14), tendo em vista que a Quaresma é o tempo propício para a conversão, não só a pessoal, mas também a social.  

Esse caminho de conversão quaresmal, em vista de uma cultura da paz, exige o enfrentamento da realidade de exclusão, pois sem Justiça Social não haverá superação da violência.

A Quaresma, período de 40 dias em preparação à data mais importante do ano católico – a Páscoa – lembra a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Esse período de 40 dias da Quaresma é quando se exercitam o jejum, a esmola e a oração. A contagem se inicia sempre na Quarta-Feira de Cinzas, com a celebração da missa de imposição das cinzas na testa dos fieis.

As cinzas, oriundas da queima dos ramos do Domingo de Ramos anterior, são símbolo de reconhecimento da própria fragilidade e mortalidade humana. 

A violência é o não reconhecimento do outro, é coisificar a pessoa humana e toda vez que a pessoa humana é coisificada ela é também manipulada, exercendo-se sobre ela força e brutalidade. 

O primeiro chamado da campanha é o da valorização da vida, que é dom divino e precisa ser respeitada do seu início ao seu fim natural. 

O segundo chamado é o da fraternidade, pois a campanha quer recordar que somos irmãos e irmãs filhos do mesmo Pai, cujo sonho é que seus filhos vivam em paz e em harmonia. 

O terceiro chamado é ao profetismo. Por causa da dimensão profética, recebida no batismo, nós lutamos pela preservação e garantia dos direitos elementares do ser humano.

Nesse sentido, a sociedade é convidada a refletir e buscar caminhos concretos para resolver o problema da violência, buscando na Bíblia sugestões que possam ajudar a pensar em formas de combatê-la em todos os níveis. 

A superação da violência, condição para uma sociedade e cultura da paz, exige comprometimento e ações envolvendo a sociedade civil organizada, a Igreja e os poderes constituídos, para a formulação de políticas públicas emancipatórias que assegurem a vida e o direito das pessoas em uma sociedade e cultura de paz.

A não consolidação dessas necessidades básicas é uma das principais causas da violência física, psicológica e social na sociedade brasileira. Portanto, superar a violência em vista de uma cultura da paz, exige o enfrentamento dessa realidade.

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