No mundo real, percebemos que – para além da pandemia e dos conflitos sociais – temos um Brasil em desconstrução com os eventos traumáticos na política, num processo que cozinha em fogo baixo, diante de um Estado ineficiente e inoperante.
Essa desconstrução tem uma carga de morte. Algo morreu e está morrendo no país, com políticos fisiológicos, persistentes, inabaláveis, vorazes, sem futuro e viventes de um tempo que já passou.
A violência que explode em linchamentos, chacinas e extermínios que se propagam no país é sintoma de uma chocante realidade que aparece para além do teatro do poder de Brasília, cujos atores esquecem que o poder deve ser exercido obedecendo ao povo e não mandando no povo.
O Brasil nunca viveu de modo republicano e democrático. É por isso que o primeiro historiador do país, Frei Vicente do Salvador, fez uma declaração que até hoje permanece intocável, ao afirmar que “nenhum homem dessa terra é repúblico, nem zela e trata do bem comum, se não cada um do bem particular”.
Não existe a possibilidade de democracia real num país onde os interesses particulares e oligárquicos sempre estão acima do bem público com a secular submissão imposta às classes populares e humildes, forjada por uma instituição política colonial, imperial e falsamente republicana.
É este modelo de política que permite agora a arrogância de um presidente tirano que se enfurece contra a extinção de sua frágil luz governamental e tenta esconder as consequências desastrosas da sua gestão num momento em que uma pandemia letal destroça nossas ilusões de força que o país nutriu entre nós para encobrir suas misérias evidentes.
Graças à imprensa e às redes sociais, a violência fascista está gravada e difundida amplamente. Desta vez, não houve o desaparecimento progressivo dos fatos no oceano de notícias banais.
Agora, as práticas fascistas estão registradas e filmadas, indignando a todos, nos levando às ruas com punhos e vozes erguidas em protestos pacíficos em contraposição aos levantes selvagens dos inimigos da democracia que querem nos distrair das nossas razões políticas.
Não faltam evidências de que o governo bolsonarista de extrema-direita quer usar o caos da pandemia em favor de seus próprios fins políticos, ameaçando as instituições e praticando uma violência sem limites contra o povo que jurou proteger.
A força do ódio explodiu diante de nós, em meio a uma confluência letal de razões, com o comportamento condenável de um presidente da República que, com um arsenal de atrocidades, prega a morte de forma desmedida.
Diante disso, precisamos agir começando com a nossa própria ação, ainda que pequena. Se as ruas não são possíveis, vamos fazer o que for possível em apoio à luta contra o fascismo. Tudo vale. Há muitas maneiras de se colocar e lutar, em tempos de verdade.
Vivemos um momento político crucial que pode ter dois desfechos opostos. Ou garantimos um grau de justiça superior, por meio de um esforço popular persistente ou nos enfraquecemos diante da reação autoritária que quer nos afundar em uma escuridão desconhecida.
A hora é agora para escrevermos um futuro decente para o país, sendo fiéis a nós mesmos, uns aos outros, e à legião de vítimas que exigem justiça neste vale de tristeza insuportável no país.
Nossa frágil democracia está agonizando
ResponderExcluir