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domingo, 5 de julho de 2020

Literatura: direito inalienável do homem

A
Antonio Carlos Lua

No campo da literatura, Antonio Cândido é o intelectual mais destacado de sua geração, sendo o primeiro grande estudioso universitário a permanecer com obra imediatamente relevante até agora. 

Em vida, ele nos deu a certeza de que, sem distinções entre erudita e popular, a literatura deveria ser um direito inalienável do homem. 

Não à toa, um dos textos mais conhecidos de Antonio Cândido  – “O Direito à Literatura” – inclui a arte no rol dos direitos humanos. Ele dizia que “a literatura é o sonho acordado das civilizações e como não é possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura. Deste modo, ela é fator indispensável de humanização”.

Ele sempre fez questão de não tratar a literatura como fenômeno isolado, Como crítico e ensaísta atuou no tempo presente, escrevendo sobre as obras de Clarice Lispector, João Cabral de Mello Neto, Carlos Drummond de Andrade, voltando seu olhar também para Machado de Assis, Aluísio de Azevedo e Manuel Antônio de Almeida. 

Dessa forma, ele foi determinante para a ideia que se tem hoje da produção literária brasileira. Generoso, atuava no seu tempo. Escreveu muito sobre autores que fizeram das camadas mais baixas da sociedade seu tema principal. Talvez seja esta a razão da literatura ser vista por ele como um direito. 

Antonio Cândido dizia que uma das coisas mais importantes da ficção literária é a possibilidade de 'dar voz', de mostrar em pé de igualdade os indivíduos de todas as classes e grupos. 

No campo da sociologia, dedicou-se à figura do homem interiorano. Falou da organização social, da presença de uma cultura que, por vezes, tentou-se esquecer ou camuflar com a ideia de progresso. 

Com um olhar sempre para os de baixo, para os que estão “ao rés do chão”, evocando o título de um dos seus ensaios literários, sempre sustentou de forma clara suas posições políticas.

Por toda a sua vida, mesmo nos momentos mais agudos, nunca foi capaz de perder a preocupação com os fatores sociais e políticos, num mundo com uma situação de extremo retrocesso e de valores e bens que são muito diferentes do humanismo.

Viveu praticamente todo o conturbado século XX, escrevendo, debatendo, ajudando a dar lucidez, clareza e humanidade a toda uma geração de escritores, Faleceu em 12 de maio de 2017, aos 98 anos, não antes de trazer a literatura para a seara de todos, não só para a dos intelectuais. 

São muitos os legados deixados pelo crítico literário Antonio Cândido, que produziu textos fundamentais, como o “De Cortiço a Cortiço” no qual ele faz uma leitura de uma das mais importantes obras do Naturalismo brasileiro – “O Cortiço”, do escritor maranhense, Aluísio Azevedo.

A obra retrata o modo de vida no que diz respeito à moradia e estilo de vida da população brasileira no final século XIX, trazendo como cenário a vida social da população do Rio de Janeiro. 

Antonio Cândido foi um intérprete, do país, um humanista, que tinha um projeto cidadão, de inserção na vida de maneira cidadã e democrática. Era uma figura singular porque tinha uma “dupla militância – literatura na imprensa e sociologia na universidade. Com o feeling e a abordagem do crítico ‘impressionista, escrevia muito bem, com profundidade.

Foi inteligente, cosmopolita, utilizando as melhores estradas sociais para se manifestar politicamente. A obra mais famosa de Antonio Cândido é “Formação da literatura brasileira”, que, em lugar de ser lido como um livro de história da literatura e das ideias críticas que trazia sobre autores, passou a figurar como uma ousadia conceitual impressionante. 

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