Desde a promulgação da
Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988, foram criadas, no Brasil, 5,4
milhões de normas voltadas às pessoas físicas e jurídicas. O número — que
representa, em média, 782 normas editadas por dia útil – é um exemplo esdrúxulo
do emaranhado burocrático brasileiro. Nunca o Brasil produziu quantidade tão
significativa de leis, muitas delas destinadas à lata de lixo da História por
inconstitucionalidade ou irrelevância.
Não é tarefa fácil decifrar
e se adequar ao universo de normas no país. No total, 13 bilhões de palavras –
publicadas na forma de 5,4 milhões de normas – foram escritas nos últimos 29
anos para tentar reger o país. Cada regra traz, em média, 11,2 artigos. Assim,
são mais de 2,534 milhões de artigos, 5,904 milhões de parágrafos, 18,877
milhões de incisos e 2,483 milhões de alíneas.
Somente a legislação de
impostos impressa tem peso equivalente a 6,7 toneladas, o que corresponde a
seis carros populares. Se for reunida em um único livro terá 43 mil páginas,
cada uma com 2,4 metros de altura por 1,2 de largura. As páginas, uma ao lado
da outra, somarão 93 quilômetros. A lombada terá 3,2 metros.
O excesso de leis esconde um
Estado autoritário sob uma cortina de fumaça democrática, uma vez que os
espaços hermenêuticos dos textos evidenciam uma longa história de autoritarismo
e rigidez hierárquica.
Vivendo na parafernália
legislativa brasileira, o cidadão se sente absolutamente inseguro. Este é o
grande problema da nossa civilização. Como já dizia o filósofo alemão, Friedrich
Nietzsche, “quando não existe segurança, a civilização se transforma em uma
nova barbárie”.
A quantidade de leis que
surgem a todo instante – aliada à interpretações que se alteram com freqüência
– implicam em menos segurança jurídica, que é cada vez mais relativizada,
deixando a sociedade numa situação de instabilidade.
Falta senso de objetividade
aos legisladores, que desconhecem completamente o ensinamento do historiador
romano Cícero, que em contundente afirmação disse que “o mais corrupto dos Estados
tem o maior número de leis”.
No Brasil, as leis surgem
como remédio para todos os males. Nosso Parlamento produz regras instáveis,
complexas, antagônicas, mal redigidas, dúbias, num ciclo vicioso onde a criação
de uma norma sem o critério necessário exige a elaboração de outra lei para
corrigir omissões e distorções.
Essa prática faz valer a
expressão maior da famosa frase do político, escritor e ex-primeiro-ministro do
Reino Unido, Benjamim Disraeli: “mudar, mudar sempre, a fim de que as coisas continuem
sempre as mesmas”.
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