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domingo, 17 de março de 2019

Planeta de plástico


Antonio Carlos Lua

Desde o pós-guerra, quando a natureza passou a sofrer com os impactos do derrame de petróleo no mar, os problemas com os oceanos não pararam, com a enorme quantidade de peixes contaminados por poluentes. 

Com o tempo, novos poluentes se agregaram aos já existentes, a exemplo dos plásticos que hoje ameaçam a sociedade humana. Seus efeitos podem afetar os ecossistemas durante centenas ou até milhares de anos.

São 13 milhões de toneladas de plástico jogadas a cada ano em nossos oceanos, ameaçando a vida marinha, os ecossistemas e a nossa saúde, já que o produto contamina nossa água.

Os microplásticos – fragmentos de polímeros inferiores a 5 mm – já não são mais um problema apenas para as criaturas que vivem nos oceanos atulhados. 

Os mosquitos ou as libélulas ingerem os microplásticos, que entram na cadeia alimentar de outras espécies quando estes insetos são comidos por animais, disseminando o consumo de resíduos plásticos entre os seres vivos da Terra.

Cerca de  83% da água da torneira contém partículas de plástico e seus químicos tóxicos podem ser encontrados em nossa corrente sanguínea. A quantidade desse tipo de resíduo aumentou em 100 vezes no Oceano Pacífico.

Pesquisa da Universidade de Reading, no Reino Unido aponta que, em 2050, a quantidade de lixo plástico nos oceanos deverá superar a de peixes. Partículas de microplástico hoje presentes no oceanos superam as estrelas de nossa galáxia.

Assim, o domínio do egoísmo humano sobre o novo período geológico – no limiar de uma nova era (Antropoceno) – está provocando a sexta extinção em massa das espécies, acelerando a degradação dos ecossistemas. 

O consumismo compulsivo está destruindo o processo civilizatório iniciado deste o surgimento do homo sapiens até a sua transformação em homo economicus

É um problema global e onipresente. Assim como uma baleia morta não tem nacionalidade, o lixo que a mata também não tem passaporte, vem de qualquer lugar do mundo, levado pelos ventos e pelas correntes marítimas. 

O Brasil é quatro país que mais produz plástico no mundo, gerando 11,3 milhões de toneladas desse resíduo – número três vezes maior que sua produção anual de café. 

Fica atrás apenas dos Estados Unidos (70,8 milhões de toneladas), China (54,7 milhões) e Índia (19,3 milhões). Na Europa Ocidental, a liderança é da Alemanha (8,2 milhões).

O superpetroleiro de nome ‘Knock Nevis’ foi o maior navio já construído pelo homem na história mundial da navegação. Desmontado em 2010, ele tinha um comprimento equivalente a quatro campos de futebol e a largura de um prédio de 23 andares. 

Era capaz de transportar, de uma só vez, uma carga com peso máximo de 564 mil toneladas. Mesmo um colosso dessa magnitude se apequenaria se tivesse que desempenhar a inglória tarefa de transportar o lixo domiciliar gerado anualmente no mundo. 

Uma montanha de lixo de 730 milhões de toneladas necessitariam de 1,3 mil viagens do ‘Knock Nevis’. Isso tratando-se só do rejeito gerado nos domicílios. 

Se o ‘Knock Nevis’ tivesse que transportar a somatória do lixo que é gerado anualmente por todas as atividades humanas levadas a cabo no mundo – estimadas em 30 bilhões de toneladas – ele precisaria fazer mais de 53 mil viagens. 

Nossa insana e insone máquina de acumulação de riqueza e capital funciona na base do modelo “Extrai-Produz-Descarta”, levando os resíduos a ocuparem um nexo central nas preocupações humanas. 

É bom saber que as batatas de Marte não são acessíveis à maioria dos humanos. Portanto, uma temporada em solo vermelho para fugir de uma calamidade civilizatória na terra soa improvável. 

Sendo assim, a saída é fazermos da era do homem a era da sustentabilidade e não a era do lixo plástico que agora vivemos. A avalanche de lixo está dominando o planeta e é a nova fronteira da evolução humana. 

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