Antonio Carlos Lua
Mesmo com a crise no
mercado editorial impresso internacional que obrigou muitas livrarias a
fecharem as portas, a literatura continua cada vez mais perto das pessoas
proporcionando conhecimento com o incontestável caráter visionário de algumas
obras, onde a ficção consegue ser um espelho da realidade com as acertadas
previsões de escritores sobre o futuro da humanidade.
A linha que separa ficção e a realidade pode ser mais tênue do que se imagina. No entanto, a fronteira entre o que é real e o que é inventado pode se tornar cada vez mais difusa, convidando o leitor a refletir sobre a natureza da verdade e da realidade. Antecipando cenários, a literatura se torna um instrumento poderoso para entender melhor a nós mesmos e ao mundo que se movimenta ao nosso redor.
As revelações do escritor britânico, George Orwell, no livro “1984”, por exemplo, foram amplamente difundidas pelo mundo. Escrito em 1948 – ano que corresponde ao inverso do nome do livro – a obra antecipou a existência de uma sociedade constantemente vigiada, seja através de câmeras espalhadas em todos os ambientes, seja através dos próprios olhares dos cidadãos. O tema abordado por George Orwell foi resgatado, em 1975, sob o conceito do panóptico de Michael Foucault, na obra “Vigiar e Punir”. A expressão Big Brother (Grande Irmão), utilizada na obra de George Orwell, e que traduz essa visibilidade excessiva, foi incorporada décadas depois pelo ‘reality show’ mais famoso do mundo, o “Real World”, lançado em 1992.
Outro autor consagrado por sua literatura futurista e que acabou por prever muitas conquistas no mundo foi Isaac Asimov. Ele antecipou, por exemplo, a criação de uma rede de computadores na qual todos os humanos estariam conectados, tal qual a internet, e dedicou atenção especial à robótica.
Isaac Asimov dedicou obras inteiras ao tema e um de seus livros mais conhecidos – a coletânea de contos “Eu, Robô” – discorre sobre a evolução dessas máquinas através do tempo. Outro a prever o futuro, com guerras, tanques, bombardeios aéreos e bombas nucleares foi o escritor H. G. Wells, autor do consagrado “A Guerra dos Mundos”.
Considerado um dos mais antigos visionários da literatura mundial, Julio Verne relatou, em 1869, em seu livro “Vinte Mil Léguas Submarinas”, uma máquina capaz de se locomover com um combustível eficiente e inesgotável. Sua “profecia” concretizou-se oito décadas depois, com a criação do primeiro submarino movido à propulsão nuclear.
Os dons proféticos de Julio Verne não pararam por aí. No livro “Da Terra à Lua”, ele descreve uma viagem espacial que quatro anos mais tarde também se concretizaria com a experiência norte-americana Apollo, que levou o homem pela primeira vez à Lua.
Douglas Adams, no livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias” também fez previsões sobre novidades tecnológicas e até mesmo sobre o surgimento da Wikipédia, uma enciclopédia de conhecimentos construída de forma coletiva e compartilhada.
Arthur Clarke foi outro escritor que antecipou invenções, a exemplo dos Tablets e Ipads. Em seu livro “2001: Uma Odisséia no Espaço”, ele discorre sobre um computador usado para exibir conteúdo de jornais atualizados automaticamente – o Newspad – que se parece muito com os atuais Ipads até mesmo no nome.
No livro “A Cidade e as Estrelas”, Arthur Clarke chegou a imaginar um jogo de realidade virtual dois anos antes do lançamento do primeiro jogo para videogame, em 1958.
Ele descreve a forma de lazer como um sonho, no qual não é possível se distinguir ficção de realidade. Infelizmente, Arthur Clarke não soube aproveitar os dons proféticos em benefício próprio.
Em 1945, ele apresentou um artigo defendendo os satélites como forma de melhorar as telecomunicações, mas não patenteou a ideia e perdeu uma fortuna. Outro escritor que colecionou uma lista de previsões que se concretizaram depois foi Aldous Huxley. Dentre suas previsões mais notáveis está sua descrição sobre a manipulação genética e a clonagem na obra “Admirável Mundo Novo”.
O que se constata é que os
escritores possuem um alto grau de sensibilidade que os conectam com outros
estágios e formas de percepção da realidade. Eles são capazes de enxergar e
analisar não apenas o presente mas também o futuro, prevendo tendências e antecipando
mudanças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário