Antonio Carlos Lua
O mês de agosto marca uma das maiores tragédias da humanidade com a cruel devastação, em 1945, das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki com o lançamento, pelos Estados Unidos, das bombas atômicas "Little Boy" – com urânio – sobre Hiroshima, e "Fat Man" – com plutônio – sobre Nagasaki, causando uma destruição generalizada num acontecimento trágico que mudou o curso da história mundial, deixando uma marca indelével.
A bomba atômica "Little Boy" – lançada pelo bombardeiro B-29 ‘Enola Gay’ – explodiu com uma força equivalente a 15 mil toneladas de TNT, destruindo quase 90% da cidade de Hiroshima, matando instantaneamente cerca de 70 mil pessoas.
Nos anos seguintes, milhares de japoneses morreram devido às lesões e doenças causadas pela radiação, elevando o número de mortos para aproximadamente 200 mil pessoas, com os efeitos a longo prazo da radiação.
O lançamento das bombas
atômicas em Hiroshima e Nagasaki foi um divisor de águas, levando o Japão à
rendição incondicional, encerrando o conflito no Pacífico e, consequentemente,
a Segunda Guerra Mundial.
A devastação causada pelas ogivas atômicas serve até hoje como um alerta para a humanidade sobre os perigos da guerra nuclear, levantando questões éticas profundas com os horrores que as armas infligem aos civis inocentes.
Hoje, não podemos ignorar a ameaça persistente das armas atômicas em um mundo cada vez mais complexo, bélico e instável, onde as tensões entre as grandes potências mundiais aumentam o risco de um conflito nuclear global, que se constitui hoje uma ameaça constante que paira sobre nós, sendo uma possibilidade mais real do que nunca.
As cicatrizes de Hiroshima e Nagasaki – únicas cidades do mundo que sofreram o trágico destino da morte nuclear, tornaram-se memoriais de como o homem pode ser capaz de uma destruição inacreditável – perduram até hoje, mostrando que continuamos pedalando sem corrente com o cretinismo moral das grandes potências mundiais.
Intrinsecamente unidas, Hiroshima e Nagasaki escancararam o horror e o sofrimento produzido pela guerra. Os santuários onde repousam os moradores das duas cidades japonesas que se sacrificaram a serviço de seu país – sendo vítimas inocentes da fúria destrutiva do extermínio – mostram claramente o desprezo pelo ser humano e por seus direitos invioláveis com os atos mais indignos e cruéis.
O fato nos leva hoje a uma profunda reflexão em meio a insana e insensata corrida armamentista nuclear, que pode levar o mundo a uma catástrofe num momento aterrorizante com potências atômicas fazendo ameaças intoleráveis contra a humanidade num contexto de crescentes tensões internacionais e de erosão dos acordos de desarmamento.
Os fatos falam por si. Hoje existem mais de 12 mil ogivas disponíveis para as nove potências nucleares, das quais quatro mil estão ativas. Os conflitos que as envolvem estão na Ucrânia, passando pelo Oriente Médio, até as escaramuças entre a Índia e o Paquistão entre ameaças nucleares que os Estados Unidos e a Rússia trocam num mundo em fragmentação. Infelizmente, a presença atroz da guerra voltou a ocupar tragicamente a cena mundial, ressoando as palavras que Freud dedicara à Grande Guerra do século passado que aos seus olhos encarnava a tendência agressiva, gananciosa, autoafirmativa do humano que vive o outro como um obstáculo à sua realização.
O embate bélico entre países que hoje encontram sua razão inconsciente nessa indomável pulsão agressiva coloca a humanidade sob ameaça, degradando a dignidade dos seres humanos.
A lembrança das bombas atômicas "Little Boy" e "Fat Man" – que devastaram Hiroshima e Nagasaki – nos convida a refletir até hoje sobre os impactos catastróficos que a ação humana pode ter sobre o planeta. À medida que o tempo avança, nos deparamos com ameaças que, embora de natureza diferente, têm o potencial de serem igualmente destrutivas.
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