As potencialidades da plataforma digital e a fúria arrebatadora da Internet impulsionaram o frenético fluxo de informações, levando alguns profetas contemporâneos do Apocalipse midiático a fazer prognósticos nada positivos quanto à sobrevivência dos jornais impressos no universo da imprensa, apontando o seu desaparecimento em, no máximo, dez anos.
A afirmação baseia-se no contexto atual dos Estados Unidos, onde o ‘The Wall Street Journal’ foi vendido, o ‘The New York Times’ reduzido no seu formato, o poderoso grupo ‘Tribune’ vivendo um doloroso processo de haraquiri corporativo, tendo ainda, na Inglaterra, o fim da edição impressa do ‘The Independent’, o primeiro jornal britânico a ser publicado apenas em versão digital.
São antigos os rumores sobre a possível extinção do jornal impresso. Antes da Internet se popularizar no Brasil, a partir de 1994, o meio impresso era um forte páreo à TV e ao rádio, aos quais, inclusive, precedeu com competência reconhecida.
No Brasil, pesquisas indicam que a Internet, a Televisão e o Rádio são os veículos predominantes de comunicação, mas o jornal impresso continua sendo o meio mais confiável. O foco é o conteúdo e não a plataforma, embora isso não signifique dizer que a publicação impressa é um atestado de veracidade e imparcialidade da notícia.
Porém, há de se reconhecer que há uma tendência confirmada em estudos recentes de que o leitor acredita muito mais no que lê num veículo impresso do que aquilo que recebe pela Internet, ainda que o autor da informação seja a mesma empresa de comunicação nas duas mídias. O placar é cruel: 52% contra 27%.
No Brasil, 15% da população compra jornais todos os dias. Metade dos brasileiros usa a Internet, mas só 10% faz a leitura de jornais digitais. Ou seja, a qualidade jornalística do veículo impresso continua sendo o atributo decisivo da sua sobrevivência.
Mesmo já inseridos no contexto digital, leitores ainda prezam pelas manchetes estampadas, o folhear das páginas, as informações que se misturam ao cheiro do café da manhã de uma geração acostumada a apalpar a notícia com atenção. As pessoas sempre necessitarão ler algo no papel, tanto faz se ele for o atual ou o provável papel eletrônico do futuro.
Na verdade, o desafio que o jornal impresso enfrenta é o de se reinventar mais uma vez em relação a sua inserção no processo de comunicação, percebendo as mudanças no contexto informativo e adaptando-se a elas com rapidez.
Ao longo da história, não se tem notícia de que alguma mídia importante tenha suplantado a outra. Ao contrário, as mídias estão sempre se reinventando e assimilando novos métodos para manterem-se ativas e influentes, aprendendo uma com a outra, combinando-se e tirando proveito do melhor que cada uma tem a oferecer.
O Rádio, por exemplo, teve a sua morte anunciada quando surgiu a televisão, mas, ao contrário, ele se reinventou e atua hoje com o dinamismo de sempre, inclusive com imagem, criando raízes de fidelidade que permanecem por gerações e gerações.
A mídia impressa está incorporada à nossa cultura e jamais será sufocada pelas novas tecnologias. Os jornais nunca deixarão de existir, embora precisem passar por um radical processo de adaptação e renovação do modelo de impressão, distribuição e logística, para baratear a planilha de custos.
No aspecto editorial, há a imperativa necessidade dos jornais impressos concentrarem sua atenção na produção de reportagens aprofundadas e na análise sistemática das notícias.
É necessário investir em colunistas com opiniões qualificadas e bem elaboradas sobre os diferentes fatos, livres de estigmas e de funis de pensamento, criando-se, também, ferramentas de interação com o leitor, para que ele analise criticamente a notícia.
É necessário investir em colunistas com opiniões qualificadas e bem elaboradas sobre os diferentes fatos, livres de estigmas e de funis de pensamento, criando-se, também, ferramentas de interação com o leitor, para que ele analise criticamente a notícia.
A publicação impressa voltada para o Jornalismo não tem fim. A TV oferece estímulos precisos através de áudio, imagem e movimento. O rádio instiga a imaginação. O jornal impresso narra. Nele, não há uma comunicação instantânea como na TV e no rádio, mas há a possibilidade da interpretação particular, reforçando a relevância do seu conteúdo para a sociedade.
Embora, no momento, asfixiados economicamente, os jornais impressos não acabarão e continuarão buscando a informação rigorosa e honesta sobre o que acontece nas ruas, descrevendo o que existe, averiguando o que acontece, apalpando o sofrimento da sociedade, remexendo consciências, dando valor agregado à notícia.
Pode parecer romantismo, mas, assim como o advento da música moderna não acabou com a ópera, a receita clássica do jornalismo impresso jamais será superada pelas novas ferramentas de comunicação digital.