ANTONIO CARLOS LUA
Diante de uma crise política sem precedentes, temos agora a tarefa urgente de repensar, com serenidade e lucidez, a experiência do Brasil como Nação, num momento em que o Governo Federal – seguindo o receituário neoliberal – insiste em levar o país ao caminho da barbárie, impondo uma vida medíocre aos brasileiros.Esta é uma tarefa básica, fundamental. Temos que nos mobilizar, em vez de ficar ouvindo clichês falsificadores da nossa trajetória no tempo, enquanto as forças populistas reacionárias fragilizam e minam a nossa já combalida democracia, ao dizer uma coisa e fazer outra, num jogo cínico e manipulador, substituindo mentiras antigas por mentiras novas.
Vivemos um momento de extrema saturação na ordem política e econômica a nos dizer que não devemos ficar de braços cruzados. Precisamos repolitizar a legitimidade da democracia no país, o que equivale a restaurá-la, uma vez que o povo perdeu a confiança na República das Medidas Provisórias com práticas políticas cada vez mais em desarmonia com a vontade, aspirações e os interesses existenciais da população.
No lugar da ideia de poder do povo criou-se no Brasil um sistema de governantes e governados, ficando esquecida, por completo, a bandeira da soberania popular, expondo as contradições de um sistema político sem estratégias para resolver impasses em questões de interesse público.
No Brasil, o regime é igualitário, mas a sociedade é desigual. É visível o processo de erosão no falido sistema político vigente no país, tornando-se inadiável no atual cenário um forte projeto de desenvolvimento nacional, trazendo a reforma democrática do Estado, para que o país possa descortinar um novo horizonte civilizatório.
Nesse diapasão, é necessário que o país se liberte da dependência do mercado financeiro imposta pelo rentismo asfixiante de Paulo Guedes, cuja origem remonta à “era dos Fernandos” (Fernando Collor - 1990/1992), e Fernando Henrique Cardoso - 1995/2002), quando os ricos condicionaram o financiamento do Estado deficitário pela desoneração tributária do capital e pela extorsão recompensada por alta taxa de juros a sustentar o jogo da dívida pública.
O rompimento desse círculo vicioso pressupõe, obviamente, a criação de uma nova maioria política comprometida com a reconfiguração do financiamento do Estado brasileiro, que na atual conjuntura nos impõe um regime despótico, uma tirania, onde as condições sociais de uma elite dominante impedem a perspectiva de esperança da população, num sistema econômico que se distancia cada vez mais da justiça social, deixando 31,1 milhões de pessoas literalmente passando fome.