Antonio Carlos Lua
As propostas engendradas em arranjos pragmáticos e casuísticos apresentadas até agora constituem-se um arremedo e resumem-se apenas à defesa de interesses eleitoreiros para ocupação de pedaços da “esfera pública” com instrumentos retóricos para alcançar o poder, prometendo milagres diante da nossa tragédia continuada.
Nesse momento, só serve aos brasileiros propostas que venham ser realmente a travessia para um regime legítimo, popular, representativo, reconstruindo a ordem constitucional-democrática comprometidas com a emergência das massas.
Não temos no Brasil atualmente nenhum político de grande durabilidade. Com uma cultura antissistêmica, vivemos uma crise na democracia representativa num país cada vez mais desigual, com políticos de ordinário perfil, revelando um espetáculo grotesco de retrocessos e vulgaridades.
Abriu-se um vácuo de poder na forma de interregno político no Brasil predador, forjado a ferro e fogo, na destruição das matas, tangendo gente, explorando, extraindo, sugando até não mais ter o que arrancar.
Tudo pelo imediato, pelo aqui e agora, olhando sempre para fora, da colônia para a metrópole, esteja em Paris ou Miami, sempre uma submetrópole a se mirar.
Com imensas distorções, o Brasil vive em tensão permanente, com grandes recuos, violência e uma democracia de baixíssima intensidade, distorcida pelo poder neoliberal.
Intolerância e violência, se revelam no palco da política, nas relações cotidianas, no genocídio de jovens pobres nas periferias, nas aldeias remotas, nos campos agrícolas com trabalhadores assassinados e índios massacrados.
Tudo contra a cidadania, contra nossa Casa Comum. Tudo contra todos, contra os explorados até o limite do esgotamento, com cidadãos engolidos, cooptados, destruídos, com a decadência moral e ética, com os perversos processos de concentração de poder e um modelo predatório de fazer política.
O Brasil da desigualdade, da exploração e violência precisa se guiar na milenar ética africana do 'Ubuntu' o “eu sou porque nós somos” e “nós somos porque você é”, menos “eu” e mais “nós”.
Precisa romper também com a própria noção de antropocentrismo, conforme nossos irmãos guarani nos ensinaram com o 'Teko Porã' (o Bem Viver), em que estar no planeta, convivendo harmonicamente com os demais seres, é muito mais importante que ter.
Só assim será possível superar os ciclos de longa história de iniquidades e injustiças. Do contrário, seguiremos nos atolando em um pântano, ou nos perdendo em um labirinto sem fim, com a projeção de nossa imagem em um espelho distorcido pelas contradições.
Vamos lutar para que em nosso espelho brilhem imagens de esperança, com uma nova política da vida – a biopolítica – com experimentações coletivas e democráticas permeados pelo empoderamento e o protagonismo popular.
Povo, ocupai o Poder! Um poder que emane de baixo para cima, de dentro para fora em uma nova cultura política, que radicalize a democracia. Afinal, os de cima não têm o direito de nos governar, e os de baixo não querem mais ser governados. O que está por vir só depende de nós.