Antonio Carlos Lua
O processo eleitoral municipal mostra que os partidos e suas lideranças mantêm o monopólio da representação política sob o ponto de vista legal, mas perderam fragorosamente o monopólio do discurso político, deixando a sociedade prisioneira desse paradoxo.
Há um profundo desencantamento e uma rejeição latente da sociedade em relação aos partidos e aos políticos, gerando um incômodo dilema entre os eleitores que, de alguma forma ou de outra, precisam votar em candidaturas num sistema que rejeitam.
Ao mesmo tempo em que os partidos e os políticos não se mostram capazes de oferecer respostas efetivas para modernizar o sistema representativo, a sociedade passa a vislumbrar janelas pelas quais possa exercer um maior controle e regulação sobre eles.
Nessa agonia, nossa frágil democracia – hoje, mais morta do que viva – segue uma interminável desidratação. Estamos num beco sem saída e não sairemos desse contexto se não rediscutirmos impiedosamente as idiotices que fizeram o país alcançar tão nítido e espetacular fracasso no campo democrático.
Ou repensamos o Brasil de forma inovadora ou não haverá mais lugar para nós com a desordem política no país, que tornou-se um laboratório de irracionalidades com sucessivos retrocessos, num doloroso espetáculo que parece não ter fim.
Chegamos ao grau absoluto da redundância política, que nos faz retroceder aos arcaísmos que levamos mais de um século para vencer e superar. Vivemos um impasse com uma política desestabizadora, sem compromisso com o bem comum.
O velho não serve mais e até agora o novo não apareceu. Essa política que está aí – absolutamente – não serve. A democracia precisa ter, de fato, vigência institucional no Brasil, para descartar agendas oportunistas que distanciam-se dos nossos horizontes políticos.
Chegou a hora de sair desse tormento, virar a página e afastar a névoa que hoje ofusca a nossa visão, impedindo-nos de escolher novos caminhos e nos livrarmos das bravatas de uma política desfigurada sem verdade e sem governabilidade, catalizando desilusões e frustações.
Quem são as lideranças políticas hoje? Qual é o elemento novo existente na política no atual momento? Há algum sinal que nos indique que possa surgir algo novo na política? Por que temos tão poucas mulheres e tão poucos negros na política, se a sociedade é mais negra e mais da metade dos cidadãos são mulheres? Qual a razão desse vazio? Por que continuamos insistindo com agendas políticas estapafúrdias que solapam as regras democráticas?
Precisamos de um verdadeiro fermento político no Brasil que, infelizmente, nunca foi uma autêntica democracia no sentido original da palavra na língua do poeta épico da Grécia Antiga, Homero. Entre nós, o poder supremo, ou seja, a soberania, jamais pertenceu ao povo (demos). Para mudar isso é preciso uma nova mentalidade coletiva.
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