Mesmo com os 29 anos de vigência da Constituição Federal –
a serem comemorados na próxima quinta-feira (5) – o Brasil ainda continua
regido por uma série de leis, normas e códigos criados pelos militares que –
valendo-se de medidas autoritárias – redefiniram regras das principais áreas da
administração pública, com orientações constitucionais que regravam um Estado
autoritário.
O dado mostra que, apesar de
a Constituição ter redefinido a democracia e o respeito aos direitos humanos
como pilares do Estado brasileiro, não houve concretamente no país um avanço
decisivo na construção de um novo caminho rumo à democracia plena, capaz de
fazer com que as transformações reais sejam integralmente conquistadas pela
atuação das forças democráticas.
Nossa democracia tem ainda
muitos limites que infelizmente ainda não foram ultrapassados, diante da
dificuldade para se chegar a consensos sobre mudanças estruturais, devido à
resistência de alguns beneficiários do sistema ditatorial que até hoje
continuam mandando no país.
O fato de a Constituição
Federal ser a antítese da fase vivida no regime militar – garantindo todos os
direitos que haviam sido retirados pela Ditadura e acrescentando outros nunca
previstos antes da sua vigência – não garantiu a retirada de leis instituídas num
período de extrema privação de direitos do nosso ordenamento jurídico.
São regras que trazem
nitidamente as marcas de um período de chumbo, marcado pelas restrições às
liberdades e à participação política, reduzindo a capacidade do cidadão de
atuar na esfera pública, empobrecendo a circulação de ideias no país, com
retaliações violentas aos jornalistas que ousassem fazer críticas ao regime. Na
época, cunhou-se até o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o."
Para cercear a liberdade de
expressão e os direitos dos jornalistas foi criada, em 1967, a Lei de Imprensa.
Ela previa multas pesadas e até fechamento de veículos de comunicação, além de
prisão para os profissionais de imprensa.
Felizmente, a lei foi revogada, em
2009, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), numa votação histórica onde o órgão
colegiado considerou a lei incompatível com a atual ordem constitucional,
acolhendo entendimento do ex-presidente da Corte, ministro Carlos Ayres Britto.
A educação brasileira também
passou por mudanças intensas na Ditadura, com o controle sobre ideologia,
engessamento do currículo e pressão sobre o cotidiano da sala de aula. As
disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas pela de OSPB
(Organização Social e Política Brasileira), caracterizada pela transmissão da ideologia
do regime autoritário.
Na área de alfabetização, a
grande aposta era o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização), uma contraposição do regime militar ao método elaborado pelo educador Paulo Freire, que
ajudou a erradicar o analfabetismo no mundo na mesma época em que foi
considerado "subversivo" pelo governo e exilado do país.
A Constituição Federal de
1988 foi uma resposta a tudo que o país viveu nos anos de chumbo. Com ela, foi
possível firmar a ideia da dignidade da pessoa humana, da concepção do Estado
como responsável pela garantia dos direitos fundamentais, da necessidade de
respeito aos valores constitucionais, trazendo de volta o voto direto,
proibindo a tortura e penas cruéis, revogando a censura, entre tantas mudanças
importantes e imprescindíveis.
No entanto, mesmo com alguns avanços, nos deparamos com algumas conclusões desanimadoras, exigindo uma
avaliação para sabermos se realmente as cláusulas pétreas são ainda o núcleo
fundamental do nosso ordenamento jurídico.
A constatação é de as conquistas não aconteceram na
extensão prevista. Com as constantes reformas de Estado capitaneadas pela onda
neoliberal, os governantes não conseguiram traduzir todos os direitos
constitucionais em ações capazes de reduzir as desigualdades sociais,
diminuindo a distância entre pobres e ricos.
Muito oportuno seu texto, meu amigo! Realmente nossa democracia está sendo ferida a cada dia, ainda mais por essa camada da sociedade que reclama o direito de expressão e acaba por cometer graves excessos!
ResponderExcluirDifícil falar em Democracia, em um país, onde a nossa Constituição Federal de 1988, embora democrática, é ferida de morte constantemente.
ResponderExcluirParabéns Dr.Antonio Carlos, pelos seus artigos, sempre nos trazendo, eu diria "reflexões". Leio seus artigos e reflito sempre suas palavras.
ResponderExcluirA conquista pela democracia é diária. Antes a ditadura militar agora civil. Caso não busquemos a soberania que vêm do clamor popular viveremos uma pedido democracia
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