Translate

sábado, 23 de março de 2024

Uma contraposição à tirania


ANTONIO CARLOS LUA

A democracia – que surgiu na Grécia como um sistema político alternativo à tirania – visa criar um ambiente social de livre discussão e argumentação, para que ideias antagônicas possam ser debatidas, evitando que desacordos ideológicos sejam resolvidos pela força.

Ela foi implantada em Atenas, por volta de 510 (antes de Cristo), quando Clístenes liderou uma rebelião vitoriosa contra o último tirano que governou a cidade-estado. As reformas políticas adotadas por Clístenes visavam resolver graves conflitos sociais decorrentes da estratificação social em Atenas, já que os aristocratas detinham o poder político e econômico sobre comerciantes, artesãos, camponeses e escravos.

Estes últimos grupos sociais haviam apoiado uma série de reformas anteriores, realizadas principalmente por Drácon e Sólon, mas que não haviam sido suficientes para resolver os conflitos.

O regime político e democrático instituído por Clístenes tinha por princípio básico a noção de que “todos os cidadãos têm o mesmo direito perante as leis”. Entretanto, apenas os homens atenienses maiores de 21 eram considerados cidadãos, excluindo da vida política as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os jovens.

A democracia ateniense era, portando, dessa forma, elitista, patriarcal e escravista, porque apenas uma pequena minoria de homens proprietários de escravos poderia exercê-la. Ela teve seu fim por volta de 404 (antes de Cristo), quando a cidade-estado foi derrotada por Esparta na Guerra do Peloponeso, voltando a ser governada por uma oligarquia. 

Trazendo a questão para o momento atual, constatamos que, mesmo sendo todos nós cidadãos, compartilhando do mesmo ‘ethos democrático’, ainda nos deparamos com  contradições seculares que inviabilizam a construção de um regime verdadeiramente democrático no país, onde o processo político se deu com a reprodução de heranças coloniais, num processo político disfuncional, sem fidelidade com o povo.  

Passamos por uma recessão democrática. Estamos tendo, talvez, a última chance de mostrar que a democracia é o melhor caminho para o progresso social. Caso continuem se repetindo os escândalos e as ineficiências que prevaleceram nas últimas décadas, a bela ideia de uma sociedade verdadeiramente democrática pode sucumbir diante da descrença geral da sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário